novembro 12, 2009

Muitos Muitos

Desde criança. A princípio não era tão visível, notável, não havia um momento preciso, as coisas aconteciam sutilmente, imperceptível para um menino. No final de sua infância quando ainda era bem protegido e de certa forma abastado, graças aos seus pais, lhe faltava entender o mesmo precisar, o uso prático daquilo que começava a perceber sobre si. Foi neste período que conseguiu discernir  que era um fenômeno particular, algo que não acontecia com as pessoas a sua volta.
Olhava atento para a quadra de esportes, aquelas quadras de esportes múltiplos, 'tipo' aquelas de tênis, vôlei, futebol,basquete, com todas as marcações sobrepostas. O recreio já havia começado há pelo menos dez minutos e, no entanto, a quadra permanecia quase vazia. Um grupo de seis colegas jogavam uma espécie de 'bobinho', esporte onde um infeliz tenta interceptar o passe dos outros que estão dispostos a sua volta, conseguindo este feito ganha o direito de ir para o círculo e colocar o cara que errou o passe no centro. Muito poucos para única quadra de esportes daquela ala, num colégio de uns três mil alunos.
Surgiu, com seu sarcasmo peculiar sabendo o que aconteceria em breve. A pré adolescência o possibilitava de engrandecer seus atos, imaginava-se quase um super-herói, mesmo sabendo a medríocridade do poder a que se atribuia. Faltava pouco menos de cinco minutos para terminar o intervalo do turno da tarde, até mesmo os seis amigos que antes disputavam a bola de futebol, já haviam saído da quadra, sentou-se com a coluna encostada no poste da cesta de basquete, abriu o livro que havia levado consigo e nem mesmo acabara de ler o primeiro parágrafo, quando um grupo pediu sua licença de forma não tão gentil, comum aos jovens, pois gostariam de jogar basquete. Levantou-se indo em direção da arquibancada, indo rente a linha do campo, mirando o degrau mais próximo, mas subtamente teve que mudar de rumo - um pouco mais pra esquerda - pois algumas meninas sentaram no seu local imaginado. Mas a essa altura, estava tão contente consigo mesmo por ser flagrante a sua relevância para o desvio. Fora ele quem colocara aquelas meninas ali, mas nem elas sabiam disso, nem os garotos esportistas de final de recreio. Não era algo perceptível a eles.